ORAÇÃO DOS DESESPERADOS – SÉRGIO VAZ
Que a pele escura,
Não seja escudo para os covardes.
Que habitam na senzala do silêncio
Porque nascer negro é
consequência
Ser
É consciência
Dói no povo a dor do universo
Chibata, faca e corte
Miséria, morte
Sob o olhar irônico
De um Deus inverso
Uma dor que tem cor
Escorre na pele e na boca se cala
Uma gente livre para o amor
Mas os pés fincados na senzala.
Dói na gente a dor que mata
Chaga que paralisa o mundo
E sob o olhar de um Deus de
gravata...
Doença, fome, esgoto, inferno
profundo.
Dor que humilha, alimenta cegueira
Trevas, violência, tiro no escuro
Pedaço de pau, lar sem muro
Paraíso do mal
Castelo de madeira
Oh! Senhores
Deuses das máquinas,
Das teclas, das perdidas almas
Do destino e do coração!
Escuta o homem que nasce das
Lágrimas
Da dor, do sangue e do pranto,
Escuta esse pranto
(Que lindo esse povo)
(Quilombo esse povo)
Que vem a galope com voz de
trovão
Pois ele se apega nas armas
Quando se cansa das páginas
Do livro de oração!
Quem é Sérgio Vaz
Sérgio Vaz fala que é poeta e acha que faz poesia. Formado nas ruas,
aprendeu tudo que sabe nos livros e noBar e Empório Gurarujá, atual bar do Zé
batidão, onde acontecem os saraus da Cooperifa.
Começou a escrever
poesia em
papel de pão. Excelente atacante de futebol
de salão e
meia-boca como médio-volante no time do Jardim Panorama. Hoje, apesar dos 44,
sonha em ser jogador de futebol.
Gosta de rap, cerveja, samba, música
negra, MPB antiga e torce para o Palmeiras. Já
trabalhou como auxiliar
de escritório, vendedor de vídeo-game e assessor
parlamentar.
É casado
com a
Sônia e tem uma filha chamada Mariana.
Não anda sozinho, está sempre em companhia dos poetas da Cooperifa e
conhece os becos e vielas do país, por isso, é folgado e agitador cultural. Tem
quem gosta, tem gente que não.
Morador de Taboão da Serra, grande São Paulo,
iniciou a Cooperifa com outros artistas em uma fábrica desativada em fevereiro
de 2001. Meses depois, o Sarau da Cooperifa com o poeta Marco Pezão, que
deflagrou um dos maiores movimentos literário de São Paulo: a literatura
periférica.
Lançou cinco livros, entre eles Subindo a ladeira mora a noite e
Colecionador de pedras, que faz parte da coleção “Literatura periférica” da
Global Editora.
Outro dia, ele e mais um monte de artistas,
criaram a Semana de Arte
Moderna da
Periferia. Ninguém ficou sabendo, mas eles fizeram.
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